A casula é obrigatória? Gótica ou romana, distintivo do sacerdote!
- Colarinho Romano
- 25 de abr. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: 12 de jul. de 2022
A casula é uma veste ampla, utilizada pelo sacerdote sobre os demais paramentos para a celebração da Santa Missa.
Conforme o Dicionário de José Aldazábal, casulla (do latim) significa casa pequena ou tenda. Esta veste teria recebido esse nome porque reveste o sacerdote da dignidade de Cristo.
Nos primeiros séculos de seu surgimento, a casula era uma veste tão grande que o sacerdote necessitava de ajuda para levantar os braços. Daí surgiu o costume de o acólito erguer a casula quando o sacerdote fizesse a elevação da hóstia e/ou do cálice na Santa Missa; gesto que permaneceu nas formas rituais após o Concílio de Trento, mas que parece ter caído no esquecimento de muitos nos dias de hoje.
Ao longo do tempo, a casula foi passando por diversas modificações e, inclusive, reduções em seu tamanho, até chegar ao modelo mais “moderno”, conhecido como casula romana. O gesto de erguer a casula perdeu sua necessidade prática, mas permaneceu na liturgia pelo seu símbolo expressivo: Simão Cirineu, que ajuda o Cristo a carregar a cruz.
A obrigatoriedade da casula
Reza a lenda que a Santa Sé permitiu aos padres de áreas missionárias de difícil acesso (como as zonas rurais da Amazônia) a faculdade de celebrar a Santa Missa sem casula. Para esses padres, que muitas vezes têm de viajar quilômetros em estrada de terra lamacenta e passar dias em comunidades isoladas da cidade, seria muito mais fácil levar apenas uma túnica branca e um conjunto de estolas para a celebração da Missa.
No entanto, não encontrando em lugar algum o documento que comprove tal permissão, decidimos publicar aqui tão somente o que se encontra nos livros da Igreja, que são de fácil acesso para todos. Além disso, mesmo que essa permissão exista, vale somente para esses padres que atuam nessas circunstâncias delicadas. Aos demais, recomenda-se a docilidade para com o que ensina a Santa Mãe Igreja.
O documento Redemptionis Sacramentum (2004) afirma:
No Missal Romano é facultativo que os sacerdotes que concelebram na Missa, exceto o celebrante principal (que sempre deve levar a casula da cor prescrita), possam omitir a casula ou planeta, mas sempre usar a estola sobre a alva, quando haja uma justa causa, por exemplo grande número de concelebrantes e a falta de ornamentos.
Redemptionis Sacramentum, nº.124
Não somente nesse número, mas nos números 123 e 126, o documento é enfático a respeito da obrigatoriedade da casula para o celebrante em TODAS AS MISSAS, o que inclui os DIAS DE SEMANA.
Quantos aos concelebrantes, a faculdade de concelebrar sem casula só deve ser usada quando houver real necessidade. Mesmo o argumento do “grande número de concelebrantes” se torna insustentável, pois a reunião desse número de sacerdotes geralmente acontece em eventos da diocese ou congregação, ocasião em que se pode prever a necessidade de um número grande de casulas.
O que normalmente se observa nessas ocasiões é a simples negligência dos sacerdotes: uns preferem não usar por causa do calor; outros não usam porque não veem sentido; outros porque é mais cômodo ficar sem casula do que reunir um grande número e devolver para os donos após o evento.
Falta-nos o zelo pelo sagrado e as noções de liturgia apontadas na Redemptionis Sacramentum sobre a importância das vestes, da distinção dos ministérios, da sacralidade das celebrações e entre outras.
Cores litúrgicas na casula
A casula segue sempre a cor litúrgica do dia, e as cores litúrgicas previstas na liturgia romana são: verde, vermelho, roxo, branco, preto e róseo. O uso dessas cores é previsto na Instrução Geral do Missal Romano (2002), n.346.
O dourado e o prateado NÃO SÃO cores da liturgia romana, mas se encaixam na categoria das cores festivas, previstas na Redemptionis Sacramentum, n. 127.
Em vista disso, o dourado e o prateado podem substituir o verde, o vermelho e o branco quando a ocasião for solene como, por exemplo, a Missa de posse do pároco ou uma solenidade do Calendário Litúrgico. Essa possibilidade JAMAIS deve ser aplicada ao roxo e ao preto, e nem deve ser usada arbitrariamente, mas com bom senso e piedade.
Inclusive, havia um antigo costume de presentar o neo-sacerdote com uma casula dupla-face: um lado dourado, o outro roxo. Assim, enquanto não conseguia comprar os paramentos de demais cores, já possuía uma casula que poderia ser usada em qualquer ocasião (por necessidade, é claro).
Sobre o uso da casula de cor azul
Embora seja associado à Santíssima Virgem Maria, o azul não é uma das cores previstas ordinariamente no rito romano.
Conta a tradição que seu uso surgiu quando, em 1864, o papa Pio IX concedeu à Espanha a faculdade de usar esta cor em seus paramentos na Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria, pois este país deu grande contribuição no processo de definição do Dogma da Imaculada.
Posteriormente, esse privilégio se estendeu ao países que foram colônias espanholas, bem como aos carmelitas e a alguns santuários marianos.
Cumpre notar duas coisas: atualmente, o uso de paramentos azuis só pode ser feito em determinadas festas marianas e somente por aqueles a quem a Santa Sé concedeu tal faculdade. Além disso, o Brasil NÃO possui tal permissão e, portanto, constitui abuso litúrgico o uso de paramentos completamente azuis, independente do dia do ano.
Todavia, é permitido o uso de detalhes azuis em paramentos onde o branco, o dourado ou o prateado predominem.
Modelos de casula
Ao longo do tempo, diversos modelos de casula surgiram e se adaptaram às necessidades e circunstâncias da liturgia. No rito romano, há dois modelos conhecidíssimos: a casula gótica e a casula romana.
A casula gótica é o modelo mais comum de se encontrar nas paróquias. Ela é aberta e possui uma entrada para a cabeça de quem usa. Quando vestida, cobre todo o sacerdote. Pode ser ornada de diversas formas: debruns, galões presos ou soltos, bordados e etc.
Foram os primeiros modelos desta casula que deram origem ao tradicional gesto de erguê-la. Como sobredito, ela sofreu reduções até chegar ao modelo seguinte.
A casula romana, embora seja o modelo mais recente, é considerada a “representante” dos paramentos tradicionais. Talvez essa fama se deva ao fato de que foi concebida especialmente para a forma ritual de São Pio V, a Missa Tridentina. Neste rito, o sacerdote precisa fazer muitos movimentos e o uso de uma casula menor auxilia bastante.
Esta casula é normalmente encontrada no formato semelhante ao de um violão, sendo aberta dos lados e ornada com brocados e/ou debruns. Geralmente traz o desenho ou o bordado de uma cruz na parte de trás e faz conjunto com a Dalmática Romana, pois ambos os paramentos se inspiram em armaduras de soldado.
O sacerdote é um soldado de Cristo!
Referências
Dicionário Elementar de Liturgia. José Aldazábal. Paulinas, 2007.
Instrução Geral do Missal Romano. Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. CNBB, 2002.
Instrução Redemptionis Sacramentum. Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Paulinas, 2004.
Comments