Eis o tempo de conversão!
- Colarinho Romano
- 16 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
Aproxima-se um dos tempos litúrgicos mais fortes de todo o calendário católico: a quaresma. Surgida no Oriente por volta do século IV e, em seguida, espalhando-se pelo ocidente, a quadragesimae é, por primeiro, um tempo de penitência e profunda oração, mas também um tempo de preparo digno do catecúmenos, isto é, daqueles que receberão o sacramento do Batismo na Vigília Pascal.
“Quanto à catequese, inculque-se nos espíritos, de par com as consequências sociais do pecado, a natureza própria da penitência, que é detestação do pecado por ser ofensa a Deus; nem se deve esquecer a parte da Igreja na prática penitencial, nem deixar de recomendar a oração pelos pecadores”.SC, n. 109 – Concílio Vaticano II
Espiritualidade Quaresmal
A quaresma é um tempo tradicionalmente associado ao jejum, à esmola e à penitência. A Igreja pretende, com esse período, levar os fiéis a associarem-se ao Cristo sofredor, que foi tentado pelo diabo e flagelado pelos homens, mas jamais derrotado.
Esses quarenta dias precedentes à Páscoa são muito propícios para exercícios espirituais, celebrações penitenciais e mortificações. A abstinência de carne pode ser substituída por outras formas de penitências ou caridade, mas o jejum é insistentemente obrigatório na Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira da Paixão.
A Igreja orienta que o jejum consiste em uma refeição completa no dia e, em caso de extrema necessidade, uma segunda refeição, porém menor em quantidade e que não se aproxime de uma completa. Estão obrigados à abstinência de carne todos os maiores de 14 anos de idade, e ao jejum todos os que possuem entre 18 e 60 anos de idade completos.
O piedoso costume de rezar a Via-Sacra todas as sextas-feiras faz-se muito recomendado.
Recorda-se, aqui, as terríveis consequências causadas à toda a Igreja pelo pecado de um único fiel. Por isso, a quaresma é um tempo onde a Igreja insiste que seus pastores de almas dediquem-se ainda mais ao Sacramento da Penitência, conscientizando o povo e realizando mutirões de confissão, que podem ser precedidos da Celebração Penitencial prevista no Rito da Penitência.
Na sextas-feiras da quaresma, há indulgência plenária para o fiel que, observando as normas para lucrar indulgência e tendo comungado na missa, rezar diante de uma cruz a oração: “Eis-me aqui, ó bom e dulcíssimo Jesus…”.
Considerações Litúrgicas
A quaresma é um período de cinco semanas, iniciando na Quarta-feira de Cinzas (que neste ano será em 17/02) e encerrando na Quinta-feira Santa, dia com o qual se iniciam as celebrações da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.
O número de dias (40) faz menção às passagens bíblicas em que se demonstra a preparação a qual os eleitos eram submetidos antes de uma grande graça, como os quarenta dias e noites de dilúvio antes do sinal da Aliança (Gn 7, 12); os quarenta anos que o povo hebreu viveu no deserto antes de chegar à terra prometida (Nm 14, 33); e os quarenta dias de jejum que Nosso Senhor viveu no deserto (Lc 4, 2).
Durante este tempo, é proibida ornamentação do templo com flores e cores vívidas, manifestando a sobriedade do período vivido, à exceção do IV Domingo da Quaresma (Laetare) e de eventuais solenidades que venham a ocorrer pelo percurso. Todavia, convém que mesmo nessas exceções haja uma moderação no uso de elementos que manifestam alegria.
O uso dos instrumentos musicais fica restrito ao sustento do canto, devendo-se evitar arranjos elaborados e solos instrumentais. O órgão, instrumento de primaz dignidade entre os demais, é incluído nesta regra.
Expressa-se aqui um insistente conselho da Santa Mãe Igreja em utilizar-se dos textos e antífonas próprios do Missal para os cantos nas celebrações, pois os textos bíblicos que os compõem são os mais apropriados para o espírito quaresmal e possuem uma bela ligação entre si.
O “Aleluia” nunca é cantado durante a quaresma, nem mesmo em solenidades, sendo substituído por um versículo com sua antífona.
Curiosamente, há um simples, mas significativo rito na Forma Extraordinária do Rito Romano onde o sacerdote enterra, num local apropriado, um pequeno pedaço de papel escrito “Aleluia”, simbolizando seu desaparecimento.
O uso do silêncio é primordial. O homem moderno tem medo do silêncio e procura encher seu dia com o barulho do mundo. Infelizmente, vê-se tal efeito até mesmo em celebrações litúrgicas, onde busca-se preencher toda e qualquer lacuna com músicas e demasiados comentários completamente desnecessários e/ou prejudiciais à vida de interioridade.
” Devemos aprender que o silêncio é o caminho do encontro pessoal e íntimo com a presença silenciosa, mas viva, de Deus em nós”. Cardeal Robert Sarah
IV Domingo da Quaresma – Laetare
O IV domingo, conhecido como “laetare” (louvor), faz uso de uma parcela de alegria antecipada, pois eis que a Páscoa se aproxima. Por isso, neste domingo, é permitido o uso de paramentos rosáceos e de ornamentação no templo, bem como solos e arranjos instrumentais. Vale ressaltar que não se deve abusar de tais elementos, pois ainda se vive a quaresma.
A cor rosa, na liturgia, simboliza alegria, e é usada apenas em dois momentos do ano: Domingo Laetare, como foi dito acima, e o Domingo Gaudete (alegria), que é o terceiro domingo do Advento.
V Semana da Quaresma
Há um antigo costume de, ao iniciar a V Semana da Quaresma, cobrirem as imagens sacras das capelas. Dessa forma, no período final da quaresma, o espírito de penitência é tamanho que os fiéis são privados até mesmo de contemplarem os santos.
A norma pede que se faça da seguinte maneira: cobrem-se todas as imagens com véu roxo. As cruzes permanecem cobertas até o término da Celebração da Paixão, na Sexta-feira Santa; as imagens dos santos ficam cobertas até o início da Vigília Pascal.
Considerações Finais
O tempo da quaresma é um período rico em significados e espiritualidade. Fazemos aqui a recomendação dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola e das Meditações de São Tomás de Aquino para a Quaresma.
Desejamos uma boa quaresma para todos, que Deus nos santifique sempre mais!
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