As 5 vias de acesso ao conhecimento de Deus, em Tomás de Aquino
- Colarinho Romano
- 14 de fev. de 2022
- 5 min de leitura
As 5 vias são provas filosóficas da existência de Deus, as quais santo Tomás de Aquino reuniu em sua obra Suma Teológica. Todavia, não são provas no sentido de “tornar evidente” a existência de Deus, mas apenas meios de dizer que não é um absurdo acreditar que Ele é real.
É impossível tornar Deus evidente porque sua essência excede infinitamente a capacidade humana, restando-nos apenas encontrar marcas deixadas por Ele na criação. Acreditar que Deus existe requer sempre, ainda que em última instância, o elemento da fé.
Antes de tudo, é necessário considerar que o ponto de partida da demonstração de Aquino é sempre um efeito acessível aos nossos sentidos, ou seja, é algo perceptível na natureza.
Além disso, existe sempre uma mediação lógica composta pelo princípio da causalidade e da impossibilidade de retroceder infinitamente na série de causas e efeitos.
Simplificando ao máximo, exporemos a seguir o que é o princípio da causalidade, tão necessário para a demonstração, e as famosas 5 vias.
Princípio da causalidade
Segundo o filósofo, tudo o que se move é movido por outro (a palavra movimento aqui entendida como toda espécie de mudança). Ou seja, tudo o que acontece possui uma causa.
O fogo, por exemplo, é a causa de a água ferver no fogão. Mas o fogo do fogão só acende porque o homem risca o isqueiro. Em linhas gerais, o fervor da água é causado pelo fogo, e o fogo é causado pelo homem.
Água ferver é efeito do fogo. O fogo é efeito do homem acender os isqueiro. Em linhas gerais, temos uma série de causas e efeitos. O fogo é efeito do homem e, ao mesmo tempo, causa do fervor da água.
Guardando bem essa informação, podemos prosseguir para a exposição das vias.
Primeira via: prova do movimento
Como já foi dito, movimento significa mudança. Existem tipos de mudança, mas tomaremos como exemplo apenas um: ganhar qualidade.
Para que uma parede ganhe a qualidade da cor vermelha, ela precisa de um ser que possua tal qualidade: a tinta. Ninguém pode dar a si mesmo aquilo que não possui. Para adquirir a qualidade da cor vermelha, é necessário recebe-la de um ser que a possua.
O ser que possui a qualidade e a concede a outro é chamado movente. O ser que recebe a qualidade é chamado movido.
Estabelecendo uma linha sucessiva de seres moventes e movidos, chegaremos a Deus. É impossível retroceder infinitamente linha sucessiva. Em algum momento há de se admitir que no princípio houve um Ser com todas as qualidades, que as concedeu para as coisas existentes e iniciou o ciclo.
Segunda via: prova da causa eficiente
De modo semelhante à linha de moventes e movidos da via anterior, na segunda via Aquino expõe que toda causa eficiente gera um efeito e, ao mesmo tempo, é gerada por uma causa maior do que ela.
O fruto é causado pela árvore; a árvore é causada pela fecundidade da terra e condições apropriadas; a fecundidade da terra é causada pela ação do sol e da chuva; o sol e a chuva dependem de outros fatores…
É um absurdo retroceder ao infinito na série de causas. Em algum momento há de se admitir a existência de uma causa primeira que, apesar de iniciar o ciclo, não foi causada por nenhum outro antes dela. Essa causa absoluta é Deus.
Terceira via: prova da contingência
Segundo Aquino, tudo o que existe é contingente. É não-ser em potência. O universo, por exemplo, não existia e passou a existir em algum momento, isto é, passou do não-ser para o ser.
No entanto, as coisas não podem passar a existir por si mesmas a partir do nada. É necessário um ser não-contingente, que não recebeu a existência de outro e que é causa de si mesmo. Esse ser possui todas as qualidades e perfeições existentes, sendo ele a própria existência, e sendo o responsável por conceder tais perfeições a tudo o que existe.
Esse ser é Deus, e tudo o que existe recebe d’Ele a existência.
Quarta via: prova dos graus de perfeição
Segundo Aquino, uma coisa é perfeita quando nada lhe falta do que convém à sua natureza.
A perfeição é simples quando o conceito diz somente à perfeição em si mesma, de modo que é sempre melhor possuí-la do que não possuir: a bondade, a sabedoria e etc.
A perfeição é mista (ou comumente chamada de simples limitada) quando o conceito apenas implica uma perfeição. A razão, por exemplo, só chega à verdade de modo lento e sujeito a erros, logo, é uma perfeição mista: contém algo da sabedoria, mas não a atinge em sua totalidade.
Existem nos seres diversas perfeições simples limitadas: alguns seres são mais bondosos do que outros; alguns seres são mais justos do que outros; entre outros exemplos.
Uma perfeição simples só pode ser limitada (ser uma perfeição mista) quando é recebida de outro. Ou seja, uma perfeição por participação.
Exemplo: Lucas é sábio, mas limitadamente, pois é capaz de errar em seus julgamentos. Ele é capaz de errar por que não é a própria Sabedoria, mas tem participação nessa perfeição em determinado grau, que é proporcional à sua capacidade intelectual.
Sendo real a existência de uma perfeição simples limitada, é também existente a própria perfeição em plenitude e grau infinito.
Qualquer perfeição tem em si a própria existência.
A existência inclui em si todas as modalidades de perfeição, logo, todas as perfeições constituem um único ser. Nós as distinguimos porque nossa razão não é capaz de exprimir todas as perfeições num único conceito, que seria infinito.
Deus é a própria perfeição. Todas as perfeições existentes nos seres são participações nas perfeições divinas, e para Deus tende tudo o que existe.
Quinta via: prova da Ordem e finalidade das coisas
Segundo Aquino, tudo existe para um fim. Tudo possui uma finalidade. Desse fim é que dizemos se algo é bom ou não.
Para que exista uma ou outra ordem, é necessário admitir que exista a Ordem em si, que é responsável por delegar a finalidade de cada coisa existente.
Ao olhar para o universo, percebemos uma variedade enorme de elementos organizados e harmonizados, desde o movimento dos astros no céu até a organização do mundo dos seres viventes.
Para haver tão maravilhosa ordem, tem de haver uma inteligência que concebeu, produziu e organizou tudo!
A teoria do big bang (que é católica) diz que o universo nasceu de uma explosão de matéria. Mas se fechar nessa teoria, como fazem atualmente, e dizer que isso foi a causa primeira de tudo é IRRACIONAL.
Ninguém espera que um prédio seja construído a partir da explosão de um saco de cimento. Explosão não gera ordem; explosão gera caos.
INTELIGÊNCIA GERA ORDEM.
Ordem é a adaptação de diversos elementos entre si, tendo em vista uma certa finalidade a ser obtida. Mas para isso, é antes necessária a idealização do projeto, que é concebido num intelecto que está fora do objeto a ser construído.
O relógio, por exemplo, é construído para marcar o tempo. Essa é a sua finalidade.
Mas não encontramos tal ideia expressa no próprio relógio. Por mais que analisemos peça por peça e expliquemos as propriedades de cada uma, não podemos encontrar nele o porquê da escolha daquelas peças e nem como aquela combinação de peças serve para marcar o tempo. Sequer a ideia de tempo existe no relógio.
A ideia de o relógio marcar o tempo e o projeto que organizou as peças dele se encontram fora, no intelecto daquele que os criou: o homem.
O Ser inteligente que criou e organizou o universo tem de ser absoluto, ilimitado e incriado, pois Ele tem de ser maior que sua criação. A inteligência ordenadora é também a inteligência criadora.
A ordem no universo é uma janela que permite sentir a presença de Deus.
Conclusão
Em nossa ignorância, expusemos tudo de forma chula e resumida. Muito mais poderia ser dito para melhorar a compreensão e rebater as objeções.
Ainda que correndo riscos, esperamos ter ajudado! Conscientes de nossas limitações, colocamo-nos à disposição para correções e melhorias.
In corde Iesu, semper
Equipe Colarinho Romano.
Bibliografia
Suma Teológica, Tomás de Aquino. Ecclesiae, 2016.
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