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As 5 vias de acesso ao conhecimento de Deus, em Tomás de Aquino

As 5 vias são provas filosóficas da existência de Deus, as quais santo Tomás de Aquino reuniu em sua obra Suma Teológica. Todavia, não são provas no sentido de “tornar evidente” a existência de Deus, mas apenas meios de dizer que não é um absurdo acreditar que Ele é real.


É impossível tornar Deus evidente porque sua essência excede infinitamente a capacidade humana, restando-nos apenas encontrar marcas deixadas por Ele na criação. Acreditar que Deus existe requer sempre, ainda que em última instância, o elemento da fé.


Antes de tudo, é necessário considerar que o ponto de partida da demonstração de Aquino é sempre um efeito acessível aos nossos sentidos, ou seja, é algo perceptível na natureza.


Além disso, existe sempre uma mediação lógica composta pelo princípio da causalidade e da impossibilidade de retroceder infinitamente na série de causas e efeitos.

Simplificando ao máximo, exporemos a seguir o que é o princípio da causalidade, tão necessário para a demonstração, e as famosas 5 vias.



Princípio da causalidade


Segundo o filósofo, tudo o que se move é movido por outro (a palavra movimento aqui entendida como toda espécie de mudança). Ou seja, tudo o que acontece possui uma causa.


O fogo, por exemplo, é a causa de a água ferver no fogão. Mas o fogo do fogão só acende porque o homem risca o isqueiro. Em linhas gerais, o fervor da água é causado pelo fogo, e o fogo é causado pelo homem.


Água ferver é efeito do fogo. O fogo é efeito do homem acender os isqueiro. Em linhas gerais, temos uma série de causas e efeitos. O fogo é efeito do homem e, ao mesmo tempo, causa do fervor da água.


Guardando bem essa informação, podemos prosseguir para a exposição das vias.



Primeira via: prova do movimento


Como já foi dito, movimento significa mudança. Existem tipos de mudança, mas tomaremos como exemplo apenas um: ganhar qualidade.


Para que uma parede ganhe a qualidade da cor vermelha, ela precisa de um ser que possua tal qualidade: a tinta. Ninguém pode dar a si mesmo aquilo que não possui. Para adquirir a qualidade da cor vermelha, é necessário recebe-la de um ser que a possua.


O ser que possui a qualidade e a concede a outro é chamado movente. O ser que recebe a qualidade é chamado movido.


Estabelecendo uma linha sucessiva de seres moventes e movidos, chegaremos a Deus. É impossível retroceder infinitamente linha sucessiva. Em algum momento há de se admitir que no princípio houve um Ser com todas as qualidades, que as concedeu para as coisas existentes e iniciou o ciclo.



Segunda via: prova da causa eficiente


De modo semelhante à linha de moventes e movidos da via anterior, na segunda via Aquino expõe que toda causa eficiente gera um efeito e, ao mesmo tempo, é gerada por uma causa maior do que ela.


O fruto é causado pela árvore; a árvore é causada pela fecundidade da terra e condições apropriadas; a fecundidade da terra é causada pela ação do sol e da chuva; o sol e a chuva dependem de outros fatores…


É um absurdo retroceder ao infinito na série de causas. Em algum momento há de se admitir a existência de uma causa primeira que, apesar de iniciar o ciclo, não foi causada por nenhum outro antes dela. Essa causa absoluta é Deus.



Terceira via: prova da contingência


Segundo Aquino, tudo o que existe é contingente. É não-ser em potência. O universo, por exemplo, não existia e passou a existir em algum momento, isto é, passou do não-ser para o ser.


No entanto, as coisas não podem passar a existir por si mesmas a partir do nada. É necessário um ser não-contingente, que não recebeu a existência de outro e que é causa de si mesmo. Esse ser possui todas as qualidades e perfeições existentes, sendo ele a própria existência, e sendo o responsável por conceder tais perfeições a tudo o que existe.


Esse ser é Deus, e tudo o que existe recebe d’Ele a existência.



Quarta via: prova dos graus de perfeição


Segundo Aquino, uma coisa é perfeita quando nada lhe falta do que convém à sua natureza.

A perfeição é simples quando o conceito diz somente à perfeição em si mesma, de modo que é sempre melhor possuí-la do que não possuir: a bondade, a sabedoria e etc.


A perfeição é mista (ou comumente chamada de simples limitada) quando o conceito apenas implica uma perfeição. A razão, por exemplo, só chega à verdade de modo lento e sujeito a erros, logo, é uma perfeição mista: contém algo da sabedoria, mas não a atinge em sua totalidade.


Existem nos seres diversas perfeições simples limitadas: alguns seres são mais bondosos do que outros; alguns seres são mais justos do que outros; entre outros exemplos.


Uma perfeição simples só pode ser limitada (ser uma perfeição mista) quando é recebida de outro. Ou seja, uma perfeição por participação.


Exemplo: Lucas é sábio, mas limitadamente, pois é capaz de errar em seus julgamentos. Ele é capaz de errar por que não é a própria Sabedoria, mas tem participação nessa perfeição em determinado grau, que é proporcional à sua capacidade intelectual.


Sendo real a existência de uma perfeição simples limitada, é também existente a própria perfeição em plenitude e grau infinito.


Qualquer perfeição tem em si a própria existência.


A existência inclui em si todas as modalidades de perfeição, logo, todas as perfeições constituem um único ser. Nós as distinguimos porque nossa razão não é capaz de exprimir todas as perfeições num único conceito, que seria infinito.


Deus é a própria perfeição. Todas as perfeições existentes nos seres são participações nas perfeições divinas, e para Deus tende tudo o que existe.



Quinta via: prova da Ordem e finalidade das coisas


Segundo Aquino, tudo existe para um fim. Tudo possui uma finalidade. Desse fim é que dizemos se algo é bom ou não.


Para que exista uma ou outra ordem, é necessário admitir que exista a Ordem em si, que é responsável por delegar a finalidade de cada coisa existente.


Ao olhar para o universo, percebemos uma variedade enorme de elementos organizados e harmonizados, desde o movimento dos astros no céu até a organização do mundo dos seres viventes.


Para haver tão maravilhosa ordem, tem de haver uma inteligência que concebeu, produziu e organizou tudo!


A teoria do big bang (que é católica) diz que o universo nasceu de uma explosão de matéria. Mas se fechar nessa teoria, como fazem atualmente, e dizer que isso foi a causa primeira de tudo é IRRACIONAL.


Ninguém espera que um prédio seja construído a partir da explosão de um saco de cimento. Explosão não gera ordem; explosão gera caos.



INTELIGÊNCIA GERA ORDEM.

Ordem é a adaptação de diversos elementos entre si, tendo em vista uma certa finalidade a ser obtida. Mas para isso, é antes necessária a idealização do projeto, que é concebido num intelecto que está fora do objeto a ser construído.


O relógio, por exemplo, é construído para marcar o tempo. Essa é a sua finalidade.


Mas não encontramos tal ideia expressa no próprio relógio. Por mais que analisemos peça por peça e expliquemos as propriedades de cada uma, não podemos encontrar nele o porquê da escolha daquelas peças e nem como aquela combinação de peças serve para marcar o tempo. Sequer a ideia de tempo existe no relógio.


A ideia de o relógio marcar o tempo e o projeto que organizou as peças dele se encontram fora, no intelecto daquele que os criou: o homem.


O Ser inteligente que criou e organizou o universo tem de ser absoluto, ilimitado e incriado, pois Ele tem de ser maior que sua criação. A inteligência ordenadora é também a inteligência criadora.


A ordem no universo é uma janela que permite sentir a presença de Deus.


Conclusão


Em nossa ignorância, expusemos tudo de forma chula e resumida. Muito mais poderia ser dito para melhorar a compreensão e rebater as objeções.


Ainda que correndo riscos, esperamos ter ajudado! Conscientes de nossas limitações, colocamo-nos à disposição para correções e melhorias.

In corde Iesu, semper
Equipe Colarinho Romano. 

Bibliografia

Suma Teológica, Tomás de Aquino. Ecclesiae, 2016.


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