O sacerdote é obrigado a absolver o penitente?
- Colarinho Romano
- 2 de jul. de 2022
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Que o fiel deve confessar sacramentalmente seus pecados para obter perdão, todos sabem. Mas, será que o sacerdote é sempre obrigado a absolver quem confessa? Quem responde essa pergunta categoricamente é o Catecismo Maior de São Pio X, sempre consultado por este apostolado pela sua fácil estrutura: pergunta e resposta.
No n. 769, São Pio X coloca que o confessor não só pode negar a absolvição, como DEVE fazê-lo em determinados casos, a fim de não profanar o sacramento. Isto porque, dada a matéria remota e próxima próprias — explicadas em outro artigo (clique aqui para ler) —, este sacramento deve ser recebido somente por quem está bem disposto.
Quem deve julgar se a pessoa está bem disposta para receber o sacramento é, obviamente, o confessor. É ele quem possui o conhecimento sobre as particularidades do sacramento. E para ajudá-lo na tarefa de julgar, no n.770, São Pio X enumera seis tipos de penitente mal dispostos, a quem se deve negar a absolvição:
1.º aqueles que não sabem os mistérios principais da Fé, ou não se importam com aprender os pontos da Doutrina Cristã que são obrigados a saber conforme o seu estado; 2.º aqueles que são gravemente negligentes em fazer o exame de consciência ou não dão sinais de dor e arrependimento; 3.º aqueles que não querem restituir, podendo-o, as coisas alheias ou a reputação roubada; 4.º aqueles que não perdoam de coração aos seus inimigos; 5.º aqueles que não querem empregar os meios para corrigir dos seus maus hábitos; 6.º aqueles que não querem fugir das ocasiões próximas de pecado.
Catecismo Maior de São Pio X, p. 121, nº. 770, grifos nossos.
O primeiro ponto diz respeito à formação do penitente. Nas lições preliminares do Catecismo, São Pio X coloca como obrigação grave aprender a Doutrina Cristã, pois ela é intrinsecamente necessária para a salvação.
Necessária porque, embora a fé seja uma virtude infusa, ela é fundamentada e aprofundada pelo conhecimento, por exemplo: crer que a confissão perdoa pecados é algo que qualquer fiel pode fazer pela piedade; mas fazer uma boa confissão implica conhecimento sobre a necessidade de um bom exame de consciência e o modo certo de proceder com a acusação dos pecados.
E as partes mais básicas da Doutrina Cristã, as quais todo católico deve ter um conhecimento básico, são: o Credo, o Pai-Nosso, os Mandamentos e os Sacramentos. O próprio Catecismo de São Pio X propõe isto nas lições preliminares, e uma boa catequese deve ser capaz de tratar desses assuntos.
Os pontos seguintes dizem respeito ao que é necessário para o próprio sacramento. Se a matéria próxima do sacramento se constitui de contrição, acusação e satisfação, o penitente que não cumpre os requisitos expostos por São Pio X acaba ferindo a matéria sacramental.
De fato, falta algo de verdadeira contrição naqueles que negligenciam o exame de consciência ou não manifestam dor e arrependimento, naqueles que não perdoam de coração seus inimigos, naqueles que não querem se corrigir e naqueles que não querem fugir das ocasiões próximas de pecado, assim como falta satisfação naqueles que, podendo, não querem reparar o dano causado.
Não há rigor excessivo num confessor que aplica estas disposições justamente; pelo contrário, há caridade. O sacramento da Penitência é um remédio para nossas enfermidades espirituais, e deve ser usado para a nossa emenda e salvação! Se o fiel banaliza o sacramento ou não tem o firme propósito de se converter, o confessor deve honrar a sacralidade do seu ofício e corrigir o erro!
O propósito de se converter é o desejo atual de não voltar a pecar e tomar todas as disposições necessárias para isso. Ainda que o penitente possa voltar a pecar posteriormente, isto não fere o propósito.
Assim, temos um exemplo: um rapaz mora com uma amiga e, casualmente, ambos se sentem atraídos e dormem juntos. Para que a confissão desse rapaz seja boa e seu propósito seja válido, ele deve se mudar da casa, pois sabe que continuando ali, suas chances de voltar a pecar continuam as mesmas.
Portanto, uma coisa é voltar a pecar por fraqueza, outra coisa é não travar batalha contra o pecado e se entregar de bandeja. O propósito de não voltar a pecar é atual, e a queda é uma fraqueza que pode acontecer num momento posterior sem ferir o propósito feito anteriormente; problema verdadeiro é a premeditação, isto é, saber que vai pecar estando naquela situação e se encaminhar para ela.
Por isso, São Pio X ordena que os confessores orientem seus penitentes, dando bons conselhos para lutarem contra o pecado; e pede que os penitentes reconheçam sua miséria, humilhem-se diante de Deus e busquem sincera conversão.
Nós, católicos, precisamos entender de uma vez que nossas vidas não são nossas, mas de Deus. E que os sacramentos não são entretenimento ou mera obrigação rotineira, mas instrumentos divinos eficazes para nossa salvação.
Que Maria Santíssima interceda por nós!
Bibliografia
Catecismo Maior de São Pio X. Goiânia: América, 2009.
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